quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Por não estarem distraídos - Clarice Lispector

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

domingo, 24 de outubro de 2010

Comecei a dividir o amor em surtos... São surtos esporádicos, pra lembrar-me que o coração ainda bate. São como doses homeopáticas, não preciso do uso contínuo, não sei se faz efeito de vez em quando mas é necessário sentir as vezes.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Aos 28 querendo ter 15 me pego com medo dos 30 chegar.
Ouço as pessoas falarem "1 a mais de vida" quando deveria ser 1 a menos.
25 é um 1/4 de século, 50 1/2 e a 1 dificilmente chegarei.
Sempre pensei em ir aos 18, e com 28 10 a mais já ganhei.
Isso tudo é muito estranho, a vida se mede em anos,e tudo vira quantidade.
Me pego pois a questionar qual será a validade de tanta idade sem qualidade onde quem manda em você é um relógio?
O tempo me manda, me faz, coage-me à agir de acordo com os anos medidos, cautelosamente calculados, desde a data e hora do nascimento, tudo vira uma questão de tempo.
Gostaria de saber: o que é tempo? mais é menos? eu posso fazer meu tempo? por que nunca dá tempo? quem manda no tempo? quem fez o tempo? para que tempo?
As vezes acho que o tempo é uma desculpa para não assumir a culpa, outras que o tempo é quem me condena...ele, ao passar, não me deixa querer ser quem realmente sou, porque se vivo fora dele, quem sou? Me perco no tempo.
Se não tenho tempo, quero um tempo porque não dá tempo....
Tempo...